Prólogo

Empty promises :: Designing a hotel in Berlin O trabalho que desenhar ou projectar um edifício involve, não é de todo comparável ao árduo trabalho de construí-lo. Tivemos cerca de vinte empresas diferentes a trabalhar no nosso local de construção; coordená-las nem sempre foi tarefa fácil.

Muitas das empresas eram top de gama e foi um prazer trabalhar com elas. No entanto o reverso da medalha também aconteceu com outras empresas com as quais tivemos que lutar para que o edifício fosse construído da forma como o tinhamos visionado. A força do caos pode ser enorme e devastadora a partir do momento em que alguma coisa começa a correr mal. Assim como um navio numa tempestade se apercebe do perigo de ser atirado contra as rochas, também um projecto inteiro se pode encontrar em perigo iminente. Durante os catorze meses de construção tivemos várias crises, sendo a pior delas todas, a "batalha da fachada".

A fachada representava já por si só uma realização técnica, mas construí-la como a tinhamos projectado foi um acto maior, até porque a empresa que se ocupou deste trabalho só nos trouxe pesadelos. Este blog é uma pequena descrição do sucedido.

Ainda hoje, seis anos após terminada a construção deste edifício, temos que lidar com as consequências deste conflito. Os nossos advogados ocupam-se até hoje com questões relacionadas com o nosso desentendimento com a empresa responsável pela construção da fachada.

Capítulo 1: Inícios entusiásticos

Foi muito difícil encontrar uma empresa que se dispusesse a construir a nossa pequena, mas complexa fachada. Enviamos uma proposta a mais de vinte-e-quatro empresas em toda a Alemanha e apenas três estavam dispostas a realizar o trabalho e com uma descrepância de preços entre elas, impensável. Após vários encontros, o projecto foi entregue à Gebr. Gieseler GmbH. O director demonstrou-se super entusiástico com o projecto e a sua empresa parecia ser também a mais competente das três interessadas. Uma empresa grande com uma receita anual que excedia cerca de sessenta vezes o orçamento estimado para a nossa fachada. Por outro lado, das três empresas que nos responderam, o seu preço era o mais justo, o que nos deu alguma segurança e nos fez sentir em boas mãos.

A relação iniciou-se de uma forma muito profissional e a Gebr. Gieseler demonstrou conhecimento e experiência quando trabalhamos em conjunto no sentido de perceber como deveria ser construída a fachada. Era uma fachada complicada com várias inovações técnicas e detalhes de autor por nós desenhados, que dariam ao edifício o seu aspecto único. É possível ler mais acerca dos projectos para as fachadas sul e oeste em artigos anteriores.

Capítulo 2: Atrasos dispendiosos

A construção de um edifício destes involve custos elevados e qualquer atraso na sua conclusão significa apenas o aumento destes custos. Os nossos contratos contemplavam duras penalizações para situações de atraso das obras, da responsabilidade dos construtores. Infelizmente e apesar de serem prática corrente, estas sanções são extremamente difíceis de aplicar.

O nosso local de construção era tão pequeno que a ameaça que as penalizações por nós impostas para situações de atraso podiam representar, eram insignificantes comparativamente a outros locais de construção muito maiores nos quais a Gebr. Gieseler estava envolvida.

Terminado o trabalho, a Gebr. Gieseler apresentava seis meses de atrasado na conclusão de uma obra que tinha sido prevista para durar apenas dez semanas.

Parte do problema deveu-se ao facto da Gebr. Gieseler ter substimado a complexidade do projecto. Falta de comunicação, incompetência e má sorte, foram razões que contribuíram para o atraso. A empresa justificou-se atribuíndo a culpa a um subempreiteiro por eles contratado e principal responsável no local de construção. Como nos viemos a aperceber mais tarde, este pobre subempreiteiro era apenas o bode expiatório desta novela e estava longe de ser o culpado pelos meses e meses de atraso na conclusão da obra.

Roubo !

Os problemas começaram realmente, quando numa noite o material que tinha sido entregue para a construção da fachada, foi roubado por ladrões de metal, que devem ter vendido o aluminio à sucata. Em apenas uma noite, perdemos seis semanas de trabalho , foi este o tempo que levamos para reproduzir o que tinha sido roubado.

Pouco tempo depois, apercebemo-nos que as janelas acabadas de instalar não abriam num dos andares, isto porque a Gebr. Gieseler tinha feito as medições erradas. O nosso tempo de atraso não parava de aumentar.

Um dos trabalhadores caíu de uma escada mesmo antes do Natal. Felizmente sobreviveu, após seis semanas no hospital a recuperar de traumatismos na cabeça e dois braços partidos.

As nossas cartas ameaçando-os com as penalizações previstas no contracto não contribuíram para o aumento da eficiência do trabalho. Os minilofts estavam já arrendados para o final de maio e o edifício estava longe de estar concluído.

No final de Março recorremos ao nosso advogado no sentido de oficializar as nossas ameaças. O ritmo aumentou mas a nossa confiança estava violentamente abalada.

Chapter 3 – Fraude

O grande problema na construção da fachada foi criado pela Gebr. Gieseler ao utlizar materiais e produtos na construção diferentes dos por nós indicados.

Estas substituições de materias são comuns e podem ser vantajosas para ambas as partes. A Gebr. Gieseler propôs-nos que os vidros fossem fabricados pela St. Gobain, uma das maiores manufacturas de vidro em toda a Alemanha. Acabamos por a aceitar a proposta.

O que eles não nos disseram foi que os materias e produtos utlizados eram substancialmente mais baratos e de pior qualidade do que aqueles para os quais nós os tinhamos contratado para instalar.

Para sua pouca sorte, o argumento por eles utilizado como justificação não tinha qualquer fundamento. Cerca de 30% dos paineis de vidro estavam defeituosos e a St. Gobain recusou-se a honrar a garantia.

Capítulo 4: Broken

Quando a Gebr. Gieseler concluíu o seu trabalho, fomos deixados com uma fachada defeituosa. Estes defeitos foram a razão pela qual nos recusamos a pagar o que tinha sido inicialmente preestabelecido.

Classificamos os defeitos da fachada em duas categorias: defeitos nos protectores contra o sol (jalousies de grandes dimensões exteriores às janelas) e outros pequenos defeitos. A maior parte destes pequenos defeitos já foram por nós arranjados.

Os defeitos nos protectores contra o Sol estão longe de serem um pequeno problema . Cerca de um quarto destas estruturas no nosso edifício estão imóveis. Felizmente, o espaço não é prejudicado. As janelas abrem e fecham, protejendo os apartamentos do vento e da chuva e mantendo a temperatura no interior. Algumas destas estruturas estão simplesmente empanadas assim como uma cicatriz numa cara bonita.

Capítulo 5: Arbitragem

Finalmente os advogados de ambas as partes chegaram a um consenso e o preço da obra foi reduzido. Os pagamentos pendentes seriam depositados numa conta de administrador gerida por Michael Zorn, advogado da Gebr. Gieseler. Este dinheiro seria pago à Gebr. Gieseler em duas tranches. Uma primeira tranche de 15,000 euros seria imediatamente transferida por Herr Zorn e a segunda tranche no valor de 35,000 euros seria mantida nesta conta de administrador até que todos os defeitos na obra fossem reparados pela Gebr. Gieseler.

Inicialmente sentimo-nos bastante satisfeitos com a solução encontrada.

Gebr. Gieseler prometeu reparar os "sunshades", logo que conseguisse resolver os problemas de ordem legal com os seus fornecedores de vidro.

Após meio de ano de espera e frustração, voltamos a recorrer aos nossos advogados no sentido de exercer alguma pressão. Não funcionou. Apenas se contam algumas visitas esporádicas e pouco efectivas de alguns trabalhadores desta empresa no sentido de terminar a obra.

Capítulo 6: Barriga para cima

Em Dezembro de 2006 fomos informados pelo seu chefe que a Gebr. Gieseler tinha declarado falência.

Estavam explicados os longos atrasos, as repentinas mudanças de subempreiteiros, as desculpas esfarrapadas.

Pouco tempo depois , os subempreiteros desta empresa tentaram que nós lhes pagássemos pelo seu trabalho. Pelo que pude perceber a Gebr. Gieseler não pagava aos seus contratados.

A Gebr. Gieseler encontrava-se provávelmente já numa situação de crise quando se ofereceu para tomar conta da obra. A própria escolha da St. Gobain para o fornecimento dos vidros foi eventualmente motivada mais por razões contratuais do que pelos baixos preços praticados. St. Gobain seria provávelmente a única empresa disposta a entrgar a mercadoria sem pré-pagamento.

Estava também explicado o comportamento errático dos subempreiteiros, que devem ter parado de trabalhar porque a A Gebr. Gieseler não lhes pagava.

Todas as promessas de reparação dos "sunshades", não passavam de tácticas de forma a atrasar o fim inevitável.

Os documentos que recebi por parte do gerente de falência indicavam que uma solução tinha sido negociada, mas na verdade nunca foi executada, talvez porque a Gebr. Gieseler não tivesse liquidez para o fazer.

Na Alemanha, quando uma empresa declara falência é muito difícil fazer cumprir obrigações contratuais. Existem no entanto algumas excepções.

Capítulo 7: Tape vermelha bondage

O advogado Herr Zorn mostrou intenção de processar a St. Gobain, em cooperação com Herr Muller, o advogado encarregue do processo de insolvência. Após o processo judicial, ficou decidido que a St. Gobain iria reparar a fachada em conjunto com a Gebr. Gieseler.

De todas as vezes que tentei falar ou com Herr Zorn ou com o Herr Muller, estes acusavam-se mutúamente pelo atraso do processo. Durante vários anos tentei que estes dois advogados cooperassem entre si. A lei da insolvência na Alemanha não contribui para uma resolução rápida e eficaz deste tipo de processos, que se arrastam indefinidamente.

Só após quatro anos é que o odvogado encarregue do processo de insolvência acordou em transferir para nosso nome os direitos legais e liberar o dinheiro que estava depositado na conta administrada por Herr Zorn.

Isto significou que podiamos processar a St. Gobain pelas janelas e vidros defeituosos e exigir que o Herr Zorn nos devolvesse os 35,000 euros que lhe tinham sido confiados.

Capítulo 8: Victória abortada

Sentimos isto como uma vitória, até ao próximo passo. Os nossos advogados eram da opinião, que um processo contra a St. Gobain, com uma base legal tão frágil, as hipóteses de ganhar eram mínimas.

Tentamos um acordo extrajudicial com a St.Gobain, mas estes prontamente se recusaram a fazer qualquer esforço no sentido de reparar os vidros defeituosos. Chocou-me o facto de uma firma desta envegadura não honrar as suas garantias. Mas isto não foi nada, comparado com o choque que sentimos quando tentamos recuperar o dinheiro da conta do administrador.

Capítulo 9: O advogado criminal

Uma conta de administrador é uma conta gerida por um advogado. O advogado que gere esta conta é responsável perante ambas as partes envolvidas e não tem direito legal sobre o dinheiro desta conta. Este tipo de contas são utilizadas em casos em que as dividas financeiras não se encontram devidamente esclarecidas. Elas funcionam como uma garantia para ambas as partes envolvidas de que o dinheiro está lá, e quando a disputa se solucionar, o dinheiro será entregue a uma das partes por direito.

No nosso caso, o dinheiro foi colocado numa conta de administrador para que a Gebr. Guieseler tivesse a segurança de que quando o trabalho fosse terminado, eles seriam pagos pelos seus serviços, e por outro lado, em nossa defesa no sentido de garantir que eles iriam terminar o trabalho de reparação a que se tinham comprometido e nem um penny mais, até que que tudo o que havia para reparar fosse reparado.

Ao que parece, durante estes 5 anos (desde que o dinheiro foi transferido para a conta de administrador em nome Herr Zorn), o administrador de insolvência nunca recebeu quaisquer declarações por parte de Herr Zorn relativamente à conta , apesar destas lhe terem sido solicitadas por diversas vezes.

Quando por fim decidimos que o dinheiro deveria retornar à nossa posse, Herr Zorn iniciou uma campanha de sucessivos atrasos, desculpas e argumentos legais absurdos.

Não prestar declarações sobre o extracto de uma conta de administrador é um acto criminal na Alemanha. Usar o dinheiro de uma conta de administrador para outros fins que não os acordados por ambas as partes é também um acto criminal.

Um advogado condenado por tal acto seria expulso e sujeito a receber uma sentença criminal.

Após seis meses, Herr Zorn prometeu pagar-nos o montante em dívida. Dois meses depois os 20,000 euros foram finalmente transferidos para a nossa conta bancária. Foi pago um pouco mais de metade do que ele na realidade nos devia e sem nunca ter em conta todas as taxas legais que tivemos que pagar devido à sua não transparência.

Agora, quase um ano depois deste primeiro pagamento, Herr Zorn recusa-se a pagar o restante. Fizemos uma queixa à ordem de advogados e uma acusação criminal contra ele. A incógnita mantém-se, receberemos algum dia o nosso dinheiro de volta?

Ninguém a quem contei esta história, podia acreditar. Na Alemanha uma conta de administrador não garante qualquer segurança e dependemos apenas da palavra do advogado que a gere. Não existe um corpo exterior, como a ordem dos advogados, ou o governo que nos defenda. Esta não é concerteza a primeira vez que uma situação desta natureza acontece.

As acções de um advogado isolado, abalaram a profundamente a minha confiança relativamente as estas garantias. Após todas as nossas experiências com bancos, burocracia, mais um pilar da sociedade que se desmonora mesmo em frente aos meus olhos.

Epílogo

Escrever a história de um evento traumático. Embora o nosso edifício carregue com ele as cicatrizes dos actos deploráveis e desesperados de uma empresa sem escrúpulos, mantém-se e brilha apesar de tudo.

As cicatrizes esta batalha, testemunham a nossa luta. Como diz o meu cunhado, "ninguém num bar, provoca uma luta com um tipo de rosto marcado".

Ninguém se mete conosco, nunca mais !

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Empty promises Desenhar e projectar um edifício é uma coisa e construí-lo é outra completamente diferente. As nossas relações com construtores foram desde altamente produtivas até insanamente estressantes.

Em particular, o pesadelo com a empresa que se ocupou da fachada do nosso edifício abriu-nos os olhos para a realidade. Uma história digna da mais refinada literatura de cordel, sempre com novas e assustadoras surpresas à nossa espera.


Prólogo

Empty promises :: Designing a hotel in Berlin O trabalho que desenhar ou projectar um edifício involve, não é de todo comparável ao árduo trabalho de construí-lo. Tivemos cerca de vinte empresas diferentes a trabalhar no nosso local de construção; coordená-las nem sempre foi tarefa fácil.

Muitas das empresas eram top de gama e foi um prazer trabalhar com elas. No entanto o reverso da medalha também aconteceu com outras empresas com as quais tivemos que lutar para que o edifício fosse construído da forma como o tinhamos visionado. A força do caos pode ser enorme e devastadora a partir do momento em que alguma coisa começa a correr mal. Assim como um navio numa tempestade se apercebe do perigo de ser atirado contra as rochas, também um projecto inteiro se pode encontrar em perigo iminente. Durante os catorze meses de construção tivemos várias crises, sendo a pior delas todas, a "batalha da fachada".

A fachada representava já por si só uma realização técnica, mas construí-la como a tinhamos projectado foi um acto maior, até porque a empresa que se ocupou deste trabalho só nos trouxe pesadelos. Este blog é uma pequena descrição do sucedido.

Ainda hoje, seis anos após terminada a construção deste edifício, temos que lidar com as consequências deste conflito. Os nossos advogados ocupam-se até hoje com questões relacionadas com o nosso desentendimento com a empresa responsável pela construção da fachada.

Capítulo 1: Inícios entusiásticos

Foi muito difícil encontrar uma empresa que se dispusesse a construir a nossa pequena, mas complexa fachada. Enviamos uma proposta a mais de vinte-e-quatro empresas em toda a Alemanha e apenas três estavam dispostas a realizar o trabalho e com uma descrepância de preços entre elas, impensável. Após vários encontros, o projecto foi entregue à Gebr. Gieseler GmbH. O director demonstrou-se super entusiástico com o projecto e a sua empresa parecia ser também a mais competente das três interessadas. Uma empresa grande com uma receita anual que excedia cerca de sessenta vezes o orçamento estimado para a nossa fachada. Por outro lado, das três empresas que nos responderam, o seu preço era o mais justo, o que nos deu alguma segurança e nos fez sentir em boas mãos.

A relação iniciou-se de uma forma muito profissional e a Gebr. Gieseler demonstrou conhecimento e experiência quando trabalhamos em conjunto no sentido de perceber como deveria ser construída a fachada. Era uma fachada complicada com várias inovações técnicas e detalhes de autor por nós desenhados, que dariam ao edifício o seu aspecto único. É possível ler mais acerca dos projectos para as fachadas sul e oeste em artigos anteriores.

Capítulo 2: Atrasos dispendiosos

A construção de um edifício destes involve custos elevados e qualquer atraso na sua conclusão significa apenas o aumento destes custos. Os nossos contratos contemplavam duras penalizações para situações de atraso das obras, da responsabilidade dos construtores. Infelizmente e apesar de serem prática corrente, estas sanções são extremamente difíceis de aplicar.

O nosso local de construção era tão pequeno que a ameaça que as penalizações por nós impostas para situações de atraso podiam representar, eram insignificantes comparativamente a outros locais de construção muito maiores nos quais a Gebr. Gieseler estava envolvida.

Terminado o trabalho, a Gebr. Gieseler apresentava seis meses de atrasado na conclusão de uma obra que tinha sido prevista para durar apenas dez semanas.

Parte do problema deveu-se ao facto da Gebr. Gieseler ter substimado a complexidade do projecto. Falta de comunicação, incompetência e má sorte, foram razões que contribuíram para o atraso. A empresa justificou-se atribuíndo a culpa a um subempreiteiro por eles contratado e principal responsável no local de construção. Como nos viemos a aperceber mais tarde, este pobre subempreiteiro era apenas o bode expiatório desta novela e estava longe de ser o culpado pelos meses e meses de atraso na conclusão da obra.

Roubo !

Os problemas começaram realmente, quando numa noite o material que tinha sido entregue para a construção da fachada, foi roubado por ladrões de metal, que devem ter vendido o aluminio à sucata. Em apenas uma noite, perdemos seis semanas de trabalho , foi este o tempo que levamos para reproduzir o que tinha sido roubado.

Pouco tempo depois, apercebemo-nos que as janelas acabadas de instalar não abriam num dos andares, isto porque a Gebr. Gieseler tinha feito as medições erradas. O nosso tempo de atraso não parava de aumentar.

Um dos trabalhadores caíu de uma escada mesmo antes do Natal. Felizmente sobreviveu, após seis semanas no hospital a recuperar de traumatismos na cabeça e dois braços partidos.

As nossas cartas ameaçando-os com as penalizações previstas no contracto não contribuíram para o aumento da eficiência do trabalho. Os minilofts estavam já arrendados para o final de maio e o edifício estava longe de estar concluído.

No final de Março recorremos ao nosso advogado no sentido de oficializar as nossas ameaças. O ritmo aumentou mas a nossa confiança estava violentamente abalada.

Chapter 3 – Fraude

O grande problema na construção da fachada foi criado pela Gebr. Gieseler ao utlizar materiais e produtos na construção diferentes dos por nós indicados.

Estas substituições de materias são comuns e podem ser vantajosas para ambas as partes. A Gebr. Gieseler propôs-nos que os vidros fossem fabricados pela St. Gobain, uma das maiores manufacturas de vidro em toda a Alemanha. Acabamos por a aceitar a proposta.

O que eles não nos disseram foi que os materias e produtos utlizados eram substancialmente mais baratos e de pior qualidade do que aqueles para os quais nós os tinhamos contratado para instalar.

Para sua pouca sorte, o argumento por eles utilizado como justificação não tinha qualquer fundamento. Cerca de 30% dos paineis de vidro estavam defeituosos e a St. Gobain recusou-se a honrar a garantia.

Capítulo 4: Broken

Quando a Gebr. Gieseler concluíu o seu trabalho, fomos deixados com uma fachada defeituosa. Estes defeitos foram a razão pela qual nos recusamos a pagar o que tinha sido inicialmente preestabelecido.

Classificamos os defeitos da fachada em duas categorias: defeitos nos protectores contra o sol (jalousies de grandes dimensões exteriores às janelas) e outros pequenos defeitos. A maior parte destes pequenos defeitos já foram por nós arranjados.

Os defeitos nos protectores contra o Sol estão longe de serem um pequeno problema . Cerca de um quarto destas estruturas no nosso edifício estão imóveis. Felizmente, o espaço não é prejudicado. As janelas abrem e fecham, protejendo os apartamentos do vento e da chuva e mantendo a temperatura no interior. Algumas destas estruturas estão simplesmente empanadas assim como uma cicatriz numa cara bonita.

Capítulo 5: Arbitragem

Finalmente os advogados de ambas as partes chegaram a um consenso e o preço da obra foi reduzido. Os pagamentos pendentes seriam depositados numa conta de administrador gerida por Michael Zorn, advogado da Gebr. Gieseler. Este dinheiro seria pago à Gebr. Gieseler em duas tranches. Uma primeira tranche de 15,000 euros seria imediatamente transferida por Herr Zorn e a segunda tranche no valor de 35,000 euros seria mantida nesta conta de administrador até que todos os defeitos na obra fossem reparados pela Gebr. Gieseler.

Inicialmente sentimo-nos bastante satisfeitos com a solução encontrada.

Gebr. Gieseler prometeu reparar os "sunshades", logo que conseguisse resolver os problemas de ordem legal com os seus fornecedores de vidro.

Após meio de ano de espera e frustração, voltamos a recorrer aos nossos advogados no sentido de exercer alguma pressão. Não funcionou. Apenas se contam algumas visitas esporádicas e pouco efectivas de alguns trabalhadores desta empresa no sentido de terminar a obra.

Capítulo 6: Barriga para cima

Em Dezembro de 2006 fomos informados pelo seu chefe que a Gebr. Gieseler tinha declarado falência.

Estavam explicados os longos atrasos, as repentinas mudanças de subempreiteiros, as desculpas esfarrapadas.

Pouco tempo depois , os subempreiteros desta empresa tentaram que nós lhes pagássemos pelo seu trabalho. Pelo que pude perceber a Gebr. Gieseler não pagava aos seus contratados.

A Gebr. Gieseler encontrava-se provávelmente já numa situação de crise quando se ofereceu para tomar conta da obra. A própria escolha da St. Gobain para o fornecimento dos vidros foi eventualmente motivada mais por razões contratuais do que pelos baixos preços praticados. St. Gobain seria provávelmente a única empresa disposta a entrgar a mercadoria sem pré-pagamento.

Estava também explicado o comportamento errático dos subempreiteiros, que devem ter parado de trabalhar porque a A Gebr. Gieseler não lhes pagava.

Todas as promessas de reparação dos "sunshades", não passavam de tácticas de forma a atrasar o fim inevitável.

Os documentos que recebi por parte do gerente de falência indicavam que uma solução tinha sido negociada, mas na verdade nunca foi executada, talvez porque a Gebr. Gieseler não tivesse liquidez para o fazer.

Na Alemanha, quando uma empresa declara falência é muito difícil fazer cumprir obrigações contratuais. Existem no entanto algumas excepções.

Capítulo 7: Tape vermelha bondage

O advogado Herr Zorn mostrou intenção de processar a St. Gobain, em cooperação com Herr Muller, o advogado encarregue do processo de insolvência. Após o processo judicial, ficou decidido que a St. Gobain iria reparar a fachada em conjunto com a Gebr. Gieseler.

De todas as vezes que tentei falar ou com Herr Zorn ou com o Herr Muller, estes acusavam-se mutúamente pelo atraso do processo. Durante vários anos tentei que estes dois advogados cooperassem entre si. A lei da insolvência na Alemanha não contribui para uma resolução rápida e eficaz deste tipo de processos, que se arrastam indefinidamente.

Só após quatro anos é que o odvogado encarregue do processo de insolvência acordou em transferir para nosso nome os direitos legais e liberar o dinheiro que estava depositado na conta administrada por Herr Zorn.

Isto significou que podiamos processar a St. Gobain pelas janelas e vidros defeituosos e exigir que o Herr Zorn nos devolvesse os 35,000 euros que lhe tinham sido confiados.

Capítulo 8: Victória abortada

Sentimos isto como uma vitória, até ao próximo passo. Os nossos advogados eram da opinião, que um processo contra a St. Gobain, com uma base legal tão frágil, as hipóteses de ganhar eram mínimas.

Tentamos um acordo extrajudicial com a St.Gobain, mas estes prontamente se recusaram a fazer qualquer esforço no sentido de reparar os vidros defeituosos. Chocou-me o facto de uma firma desta envegadura não honrar as suas garantias. Mas isto não foi nada, comparado com o choque que sentimos quando tentamos recuperar o dinheiro da conta do administrador.

Capítulo 9: O advogado criminal

Uma conta de administrador é uma conta gerida por um advogado. O advogado que gere esta conta é responsável perante ambas as partes envolvidas e não tem direito legal sobre o dinheiro desta conta. Este tipo de contas são utilizadas em casos em que as dividas financeiras não se encontram devidamente esclarecidas. Elas funcionam como uma garantia para ambas as partes envolvidas de que o dinheiro está lá, e quando a disputa se solucionar, o dinheiro será entregue a uma das partes por direito.

No nosso caso, o dinheiro foi colocado numa conta de administrador para que a Gebr. Guieseler tivesse a segurança de que quando o trabalho fosse terminado, eles seriam pagos pelos seus serviços, e por outro lado, em nossa defesa no sentido de garantir que eles iriam terminar o trabalho de reparação a que se tinham comprometido e nem um penny mais, até que que tudo o que havia para reparar fosse reparado.

Ao que parece, durante estes 5 anos (desde que o dinheiro foi transferido para a conta de administrador em nome Herr Zorn), o administrador de insolvência nunca recebeu quaisquer declarações por parte de Herr Zorn relativamente à conta , apesar destas lhe terem sido solicitadas por diversas vezes.

Quando por fim decidimos que o dinheiro deveria retornar à nossa posse, Herr Zorn iniciou uma campanha de sucessivos atrasos, desculpas e argumentos legais absurdos.

Não prestar declarações sobre o extracto de uma conta de administrador é um acto criminal na Alemanha. Usar o dinheiro de uma conta de administrador para outros fins que não os acordados por ambas as partes é também um acto criminal.

Um advogado condenado por tal acto seria expulso e sujeito a receber uma sentença criminal.

Após seis meses, Herr Zorn prometeu pagar-nos o montante em dívida. Dois meses depois os 20,000 euros foram finalmente transferidos para a nossa conta bancária. Foi pago um pouco mais de metade do que ele na realidade nos devia e sem nunca ter em conta todas as taxas legais que tivemos que pagar devido à sua não transparência.

Agora, quase um ano depois deste primeiro pagamento, Herr Zorn recusa-se a pagar o restante. Fizemos uma queixa à ordem de advogados e uma acusação criminal contra ele. A incógnita mantém-se, receberemos algum dia o nosso dinheiro de volta?

Ninguém a quem contei esta história, podia acreditar. Na Alemanha uma conta de administrador não garante qualquer segurança e dependemos apenas da palavra do advogado que a gere. Não existe um corpo exterior, como a ordem dos advogados, ou o governo que nos defenda. Esta não é concerteza a primeira vez que uma situação desta natureza acontece.

As acções de um advogado isolado, abalaram a profundamente a minha confiança relativamente as estas garantias. Após todas as nossas experiências com bancos, burocracia, mais um pilar da sociedade que se desmonora mesmo em frente aos meus olhos.

Epílogo

Escrever a história de um evento traumático. Embora o nosso edifício carregue com ele as cicatrizes dos actos deploráveis e desesperados de uma empresa sem escrúpulos, mantém-se e brilha apesar de tudo.

As cicatrizes esta batalha, testemunham a nossa luta. Como diz o meu cunhado, "ninguém num bar, provoca uma luta com um tipo de rosto marcado".

Ninguém se mete conosco, nunca mais !

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